AGRICULTURA DO NORDESTE DO BRASIL ATRAVESSA TRANSFORMAÇÃO PRODUTIVA

            A agricultura do Nordeste do Brasil atravessa importante transformação na configuração das suas culturas de lavouras permanentes e temporárias. As culturas ditas tradicionais da agricultura nordestina atravessaram significativo decréscimo em sua área plantada. Por outro lado, algumas culturas modernas ganharam destaque entre os produtores agrícolas da região.

            A evolução da área de lavouras na Região Nordeste destoa do observado no restante do país. Isso porque todas as outras quatro regiões a área ocupada por lavoura apresentou crescimento expressivo, podendo se dizer extraordinário para Norte e Centro-Oeste. Enquanto isso, a área plantada com lavouras no Nordeste, entre 2000 e 2022, cresceu apenas 1,69%, segundo o estudo Pesquisa Agrícola Municipal, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

            As mudanças entre as culturas produzidas na Região Nordeste resultaram ainda numa significativa mudança espacial da atividade agrícola dentro dos Estados da Região. Se considerarmos o período que vai entre 2000 e 2022, apenas três dos estados nordestinos presenciaram aumento do total de sua área plantada com lavouras permanentes e temporárias, Bahia, Maranhão e Piauí.

            A saber, na Bahia, o crescimento da área total plantada foi pífio no período considerado, apenas 0,24%. Os dois estados que podem ser considerados os principais focos de aumento da área produzida da agricultura nordestina são Maranhão e Piauí. Os três fazem parte da região conhecida como MATOPIBA, de intensa expansão da agricultura.

AGRICULTURA DO NORDESTE DO BRASIL
Agricultura no Nordeste do Brasil. Foto: Claudomilson Oliveira

REDUÇÃO DA ÁREA PRODUZIDA DE CULTURAS TRADICIONAIS

            A produção no Nordeste do Brasil presenciou nos últimos anos expressiva redução das áreas plantadas com lavouras consideradas tradicionais da agricultura Nordestina. A atividade de muitos agricultores, em resumo, se tornou inviável, seja por fatores edafoclimáticos locais, ou por problemas de viabilidade econômico-financeira.

            Muitos produtores nordestinos se viram obrigados a abandonar sua produção tradicional, ou porque as condições locais já não o permitiam continuar produzindo, ou porque tais culturas se tornaram extremamente não-rentáveis do ponto de vista econômico. Ficou mais viável trazer a produção de feijão, arroz e mandioca pra atender o mercado nordestino, do que continuar a produzindo localmente.

            As culturas tradicionais que mais perderam área plantada na agricultura do Nordeste do Brasil entre 2000 e 2022 foram as seguintes:

            – Feijão ( – 1.136.616 hectares)

            – Arroz em casca ( – 633.046 hectares)

            – Mandioca ( -364.882 hectares)

            Castanha de caju ( – 221.293 hectares)

            Cana-de-açúcar ( -217.517 hectares)

 

A EXPANSÃO DAS LAVOURAS MODERNAS

            O século XXI presenciou a expansão de uma nova agricultura, moderna e dinâmica no Brasil. O país se tornou uma potência agrícola, com o agronegócio ganhando destaque nos cenários nacional e internacional. Esse processo revolucionário não poderia deixar de acontecer também na Região Nordeste do Brasil.

            Ainda que as culturas tradicionais tenham sofrido perdas de área plantada entre 2000 e 2022, outras culturas surgiram no cenário local, trazendo um dinamismo para a economia das regiões produtivas, que as antigas lavouras não conseguiam oferecer. O crescimento na agricultura nordestina se deu sobretudo na área plantada de soja, milho, algodão herbáceo, sorgo e frutas.

            A principal região produtora de frutas no Nordeste do Brasil é o Vale do Rio São Francisco, no entorno das cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Há ainda importantes polos de produção no Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí e Maranhão. Nessa atividade, a irrigação possui papel fundamental.

            A soja e o milho são os grandes destaques da moderna agricultura brasileira, e esse modelo tem se replicado também na Região Nordeste. As lavouras de soja ampliaram sua área plantada, entre 2000 e 2002, em pouco mais de 1 milhão de hectares na Bahia. O crescimento no mesmo período foi ainda de 921 mil hectares no Maranhão e outros 832 mil hectares no Piauí. Este estado é a área de expansão mais recente na agricultura Nordestina. A expectativa é de que nos próximos anos esse estado possa se tornar o principal celeiro de grãos daquela região geográfica.

 

A REORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE AGRÍCOLA NO ESPAÇO NORDESTINO

            As perdas de área plantada nas lavouras tradicionais e expansão de lavouras mais modernas provocou uma significativa reorganização da atividade produtiva. De fato, apenas três estados verificaram aumento da área plantada com lavouras entre 2000 e 2022, Bahia, Maranhão e Piauí.

            Na Bahia, a área plantada com lavouras cresceu apenas cerca de 10.000 hectares no período considerado. De um lado, houve redução importante de lavouras antes tradicionais da agricultura baiana. Houve grandes reduções nas lavouras de feijão, cacau e mandioca. Por sua vez, ocorreu um significativo crescimento das lavouras de soja e milho, sobretudo no Extremo Oeste Baiano.

            As lavouras no Maranhão atingiram crescimento de cerca de 676 mil hectares entre 2000 e 2022. Isso representou um aumento de 54,34% da área plantada total do estado. Apesar do bom desempenho das lavouras de soja e milho no Sul do Estado, a agricultura tradicional maranhense também atravessou perdas no período considerado, sobretudo na produção de arroz em casca e mandioca.

            O Piauí foi o estado dentro da região Nordeste que apresentou crescimento mais intenso de sua área plantada no período considerado. As principais culturas da agricultura moderna e tecnificada são o milho e a soja. As lavouras de milho aumentaram sua área em cerca de 112%, entre 2000 e 2022. As de soja se multiplicaram em quase 22 vezes. As principais perdas de área plantada na agricultura do Piauí foram observadas nas plantações de castanha-de-caju e arroz.

2 comentários em “AGRICULTURA DO NORDESTE DO BRASIL ATRAVESSA TRANSFORMAÇÃO PRODUTIVA”

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