A produção de arroz no Brasil passou por significativo processo de concentração na região Sul do Brasil desde os anos 2000. O produto tido como componente básico da alimentação do povo brasileiro presenciou uma reorganização da sua distribuição no país. Em primeiro lugar, a área destinada à lavoura de arroz no Brasil, diminuiu em 55,26%, entre 2000 e 2022. Houve declínio em todas as unidades da federação do país, à exceção de Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A produção do grão em 2022 atingiu 10,77 milhões de toneladas. Considerando a evolução ao longo do período em questão, houve reduções expressivas da produção de arroz em todas as regiões brasileiras, à exceção da Região Sul. A saber, analisando os dados para as unidades da federação, observa-se que de fato a produção de arroz só teria aumentado efetivamente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins. Além disso, houve ainda um pequeno aumento na produção de Sergipe. Os dados são do estudo Pesquisa Agrícola Municipal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

CONCENTRAÇÃO DE ARROZ NO SUL DO BRASIL
No ano de 2000, a Região Sul concentrava 31,70% da área plantada de arroz, e era responsável por 53,52% da produção do grão. Ademais, o cultivo do produto era mais difuso, muitas vezes estando associado à produção tradicional de subsistência, ou destinado ao mercado local.
O Centro-Oeste e o Nordeste representavam, respectivamente em 2000, proporções de 24,83% e 21,45% do total da área plantada com o grão no Brasil. Além disso, a participação das duas regiões no total produzido atingia 21,33%, no caso do Centro-Oeste e 11,86% para a agricultura nordestina.
Ao longo dos anos, se observa que a produção de arroz no Brasil passou por significativo processo de concentração na região Sul do Brasil, notadamente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Por sua vez, no Paraná, ocorreu redução tanto da área plantada quanto da quantidade produzida no século XXI.
A Região Sul passou a responder no ano de 2022 por 68,14% da área plantada. Sendo que, considerando apenas Rio Grande do Sul e Santa Catarina essa proporção ficou em 66,81%. Além disso, a produção de arroz naqueles dois estados costuma ser feita de forma mais eficiente e com maior produtividade. Dessa forma, a participação da Região Sul no total da produção de arroz da agricultura brasileira chegou 83,58%. Somente os gaúchos respondem por cerca de 71% da produção nacional, enquanto os agricultores catarinenses produziram cerca de 11% desse total.
RAZÕES DO PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ARROZ
Os principais motivos para esse processo de concentração da produção de arroz nos dois estados mais meridionais do país parecem estar ligados a uma maior eficiência e rentabilidade da produção local. A lavoura no Rio Grande do Sul e Santa Catarina encontra condições mais favoráveis de produção, além de utilizar técnicas de cultura mais sofisticadas. Em função disso, a produtividade local da cultura é bem superior à média nacional.
Em outros estados, com uma produção de arroz baseada em métodos mais tradicionais, a cultura não consegue alcançar os mesmos níveis de produtividade de produtores gaúchos e catarinenses. Por causa disso, produtores menos produtivos devem estar saindo do mercado, por não conseguirem competir com a produção mais competitiva.
A queda da produção na Região Nordeste do Brasil deve estar preponderantemente associada às dificuldades de muitos produtores da região conseguir produzir de forma sustentável e rentável. A agricultura da região atravessa um período de profunda transformação produtiva. As dificuldades resultantes da restrição hídrica em algumas áreas de produção tradicional também contribuem para a redução da atividade da rizicultura local.
O declínio da produção de arroz no estado do Maranhão, que perdeu cerca de 379 mil hectares plantados entre 2000 e 2022. Com isso, o estado presenciou uma redução de 546 mil toneladas em sua produção anual.
MATO GROSSO LIDERA A QUEDA DA PRODUÇÃO DE ARROZ NO BRASIL
O declínio da produção de arroz, entre as unidades da federação brasileira, só foi maior do que o ocorrido no Maranhão no estado de Mato Grosso. Esse último viu a sua área de lavouras com o grão encolher em 592 mil hectares, no período considerado. Com isso, a queda total da produção de 1,5 milhões de toneladas.
A queda da produção de arroz no estado de Mato Grosso não seria resultado de dificuldades técnicas dos produtores locais. Pelo contrário, na verdade o estado se consolida desde os anos 2000 como grande “celeiro agrícola” nacional. Na verdade, a agricultura mato-grossense utiliza as técnicas mais modernas e representa uma das mais eficientes e produtivas do país.
A justificativa para a queda significativa da produção de arroz no Mato Grosso reside na competição desta com culturas mais rentáveis. A produção de soja, milho e algodão são bem mais atrativas e rentáveis para o produtor mato-grossense. Em função disso, o que se observa no estado é o crescimento da área dedicada a essas três culturas e um significativo decréscimo da cultura do arroz.
PROBLEMA DA CONCENTRAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ARROZ NO SUL
A concentração de arroz no Sul do Brasil mostrou recentemente um lado negativo. Em função da tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, resultante dos temporais que caíram no estado desde o final de abril, o país viu ameaçado o abastecimento do mercado nacional do produto. Além disso, a própria segurança alimentar da população brasileira se viu em risco, uma vez que o país consumiria cerca de 11 milhões de toneladas do produto.
O risco de desabastecimento e subida exagerada dos preços fez o governo brasileiro anunciar estímulos a importação de arroz. A reação do setor produtivo gaúcho foi no sentido de oposição a tais medidas. Os produtores alegam terem total condição de garantir o abastecimento satisfatório do mercado interno do produto. O principal argumento a sustentar essa posição seria o fato de que grande parte da produção do produto já ter sido colhida antes do mês de maio.
Os próprios levantamentos da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) mostrariam que a colheita do arroz gaúcho e do catarinense já se encontrariam em estágio avançado. O problema, segundo as autoridades federais, é que chuvas e enchentes teriam não apenas devastado lavouras no estado. Além disso, os depósitos e silos também teriam sido afetados. Mais ainda, a logística de transporte e beneficiamento da produção gaúcha estariam prejudicadas em função do comprometimento da infraestrutura do estado por causa das chuvas.
A controvérsia sobre a importação de arroz para o abastecimento do mercado interno termina por gerar um debate acalorado entre os defensores e opositores da medida. De um lado, o governo elenca preocupações com o abastecimento interno e com o risco de inflação de alimentos. Do outro lado, produtores gaúchos se sentem injustiçados, e julgam que a importação do produto lhe ocasionará prejuízos e ameaça a própria sustentabilidade do agronegócio gaúcho.
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